
Quando a série estreou não achei realmente que eu iria gostar. A sinopse pareceu um clichê completo, com direito a personagens típicos do, digamos, “imaginário” norte-americano, estrelando “as cerejas do bolo” da produção: Will Shuester (Matthew Morrison), professor de espanhol da escola William McKinley, quer reerguer o grupo de coral do colégio, o Glee Club, que antes era motivo de orgulho para toda a escola. Além da falta de recursos e desinteresse do diretor, o clube de coral conta apenas com alunos pouco populares e marcados pelos colegas. Nada me surpreendeu nos primeiros episódios, desde os acontecimentos, até os tipos dos personagens. No elenco principal há o típico jogador de futebol americano, o mocinho desejado pelas meninas do colégio, e a líder de torcida loira que, por acaso, é namorada do mocinho. Tem, também, o time dos excluídos, lógico, para completar o feeling de “High School” da série.
Mesmo com tantos motivos (fortes, você tem que concordar) para não assistir Glee, acabei acompanhando a primeira temporada inteira. Convenhamos: quem resiste a covers (vale lembrar, muito bem feitos) do Queen, de John Lennon, Creedence Clearwater Revival e The Police? Tenho certeza que você também deixaria na Fox só para escutar a seleção quase que impecável de músicas feita pela série, porque vale muito a pena.
Além de possuir um ótimo senso para a escolha das músicas, Glee também possui um ótimo elenco, atores realmente talentosos e que cantam bem de verdade. Começando por Lea Michele e Amber Riley, que interpretam, respectivamente, Rachel Berry, a integrante que se acha talentosa demais para o resto do grupo, e Mercedes Jones, cuja voz alcança notas humanamente impossíveis – num bom sentido, claro. Também tem Chris Colfer (Kurt Hummel) no papel de um garoto gay que ainda tenta se encaixar no preconceito alheio, Mark Salling (Puck), o valentão do clube, Dianna Agron (Quinn Fabray), a líder de torcida que acaba grávida, Jenna Ushkowitz (Tina Cohen-Chang), a menina que gosta de ser excluída, Kevin McHale (Artie Abrams), um cadeirante que sofre com os limites que um acidente lhe provocou e, finalmente, mas não tão especial (porque ele não canta tão bem assim e é desengonçado para dançar), Cory Monteith (Finn Hudson), o “talentoso” jogador de futebol. Além destes, a produção conta também com a participação extremamente divertida de Jane Lynch interpretando a treinadora Sue Sylverter, que sempre tenta desmanchar o Glee Club, mas acaba cativando o público pelos seus comentários irônicos e sarcásticos sobre o cabelo do professor Shuester.
Se eu achava que a série seria o “High School Musical” da Fox, eu errei. O formato acabou sendo digno de muita atenção da mídia, pois não foi à toa que a produção estadunidense levou prêmios como o Globo de Ouro de melhor série (comédia/musical), o Screen Actors Guild Awards e People’s Choice Awards, todos em 2010. Além disso, Glee mostrou, com algum esforço, que não se prende apenas nas músicas para garantir o seu sucesso, elaborando uma trama de deixar o telespectador ansioso para os próximos episódios.
A segunda temporada já está no ar nos EUA desde abril, e já contou com um episódio especial apenas com músicas da Madonna (episódio 16), fazendo com que a série atingisse o primeiro lugar no ranking televisivo durante a sua exibição pela segunda vez só neste mês.
Caso alguém ainda tenha dúvida de que Glee não é bom, recomendo que deixe pra lá essa velha idéia que a Disney colocou na sua cabeça de que jovens cantando precisam ser toscos (Zac Efron e Vanessa Hudgens, lembra deles?). Eu repito: Glee é mais do que um mero High School Musical da vida, possui conflitos mais adultos e dramáticos do que os de adolescentes preocupados em reconquistar a namorada, por exemplo. Glee pode ser uma série voltando para o público jovem, porém, num todo, aparenta ter mais idade do que o público pensa que tem.